A companhia paulista aportou na cidade com a proposta de impactar muita gente com a sua concepção de arte. Para o diretor Zé Celso, o teatro sério de Antunes Filho não representa muita coisa. Sob o título de companhia libertária, o oficina fez o que quis durante os dez dias que passou aqui. Destes, quatro dias foram pensados para um pequeno grupo de pessoas que topou o desafio de participar das oficinas teatrais. O período de integração/entregação foi arrebatador para cerca de 20 pessoas, que participaram ativamente das aulas, ministradas na Refinaria Multicultural do Nascedouro de Peixinhos. Os alunos estavam dispostos a seguir com o Oficina para o que desse e viesse. A socióloga Anaíra Mahin, 24, foi uma das que se entregou de corpo e alma às oficinas: “Teve um ensaio em que nós devíamos passar por debaixo da perna de alguém e ‘renascer’ como cabras. Quando fiz isso, entrei em transe. Senti que nasci uma cabra mesmo, e isso me trouxe muitas memórias afetivas. No intervalo do ensaio chorei muito”, contou. Já a estudante de Artes Cênicas Joelle Malta, 24, veio de Maceió só para fazer o curso. Para ela, o maior desafio foi enfrentar a nudez proposta nos ensaios. “Eu tive uma resistência na hora, mas queria ter conseguido. Acho que se tivesse mais uma semana de oficina, eu quebraria esse meu medo”, apostou. O esperado momento de colocar as aulas em prática, no entanto, chegou quando foi erguido o Teatro Extádio, na própria Refinaria, uma enorme arena com capacidade para 2 mil pessoas, lotada quase todos os dias. Foram quatro os espetáculos apresentados: Taniko, o rito do mar, Estrela brazyleira a vagar: Cacilda!!, Bacantes, e O banquete. Ao mesmo tempo em que o Oficina fez muita gente sair correndo no meio dos espetáculos, teve quem se jogasse com tudo na brincadeira dos paulistas. Dona Eucrêmia de Oliveira, doméstica, 64 anos, foi uma das surpresas dessa passagem de Zé Celso. Na peça Bacantes ela passou boa parte do primeiro ato como se estivesse perdida no meio dos atores. Mas numa das horas mais picantes da trama, resolveu deixar claro que, sim, fazia parte da encenação. Arrancou as roupas e saiu correndo para delírio dos seus companheiros da comunidade de Peixinhos. Libertador ou apelativo, o Teatro Oficina conquistou mais uma legião de fãs.
A força libertadora do Oficina
Do jornal do Commercio (aqui)
O “teatro livre” está indo embora da cidade. Após dez dias de um intenso processo experiencial, finda-se a temporada da Associação de Teatro Oficina Uzyna Uzona no Recife. Para alguns, o alívio de ver a questionável arte “vale-tudo” de Zé Celso Martinez indo embora da cidade. Para outros, o sentimento de que o teatro na capital pernambucana precisa é da tal liberdade, de mais qualidade técnica, mais brilho, mais cor, e um pouco menos de roupa.
Postado por Zé às 01:49